Olá leitores; feliz 2012.
Mais uma vez aqui estamos, com minha coluna de contos. Durante esse ano, vou dar o meu melhor para entreter todos vocês.
O MELHOR PRESENTE
Em uma semana, completaríamos um ano. Em uma semana, faria
seis meses. Em uma semana seria meu aniversário. E aquele seria o primeiro
aniversário de todos os meus anos de vida que eu odiria o dia antes mesmo de
começar.
Eu simplesmente não queria que tal dia chegasse, não queria
receber os parabéns que todas as pessoas me dariam, não queria os presentes que
eu receberia, eu apenas queria que tal dia não existisse, que fosse extinto,
que eu durmisse no dia anterior e acordasse somente no dia seguinte.
Não aguentaria o tormento, não conseguiria fingir um sorriso,
nem para não deixar as pessoas ao meu redor preocupadas, porque uma coisa que
eu não estava era feliz. Eu sentia ódio, nostalgia, tristeza, saudade, tudo
menos felicidade.
Eu costumava contar os dias para meu aniversário, mas um
aniversário me lembrava outro, e todos eles me remetiam aos meus dezesseis
anos, a melhor noite da minha vida, a qual foi proporcionada pela mesma pessoa
que me deu a pior noite de todas.
Ainda faltava uma semana, e as memórias já estavam me
torturando. Por que essa dor simplesmente não desaparecia? Por que eu
simplesmente não o esquecia? Essas perguntas rodavam minha cabeça, assim como
as lembranças, desde o dia em que eu descobrira da dupla traição envolvendo meu
namorado e minha melhor amiga. Seis meses já haviam se passado desde então, e
eu ainda não sabia como eles foram capazes de fazer algo assim comigo.
-Não vai mesmo fazer nada no seu aniversário? – minha mãe
perguntou ao me ver jogada na cama, tirando-me assim dos meus pensamentos.
Várias vezes naqueles últimos dois meses ela fizera tal pergunta, e minha
resposta se manteve a mesma de sempre. Nada mudaria, eu não tinha vontade
nenhuma de fazer uma festa. Comemorar o que? O que tinha para se comemorar em
uma traição como aquela.
~~*
Talvez por perceberem que eu não estava em clima de festa,
nenhum dos meus amigos perguntou se eu faria alguma coisa, nem sequer
comentaram que meu aniversário estava próximo. De fato, eu fiquei chateada com
isso, mas sozinha em casa, eu realmente agradeci que ninguém lembrasse.
Quando o dia chegou, no entanto, eu esperava que pelo menos
um “Parabéns” eu recebesse de alguém, algo que eu não escutei de ninguém, nem
da minha família, pois quando acordei já estava sozinha em casa.
-O que você tem? – Bruno perguntou sentando-se na cadeira a
frente da minha quando a aula terminou. Sempre ele. Por que quando eu queria
ficar sozinha, ele sempre aparece? De todas as pessoas, ele era o último que eu
ver num momento de solidão como aquele. E, no entanto, ele era o único que
parecia se preocupar comigo.
-Esse dia não me trás boas lembranças. – não precisava
esconder nada dele, afinal Bruno sabia de tudo, sempre soubera. Era até
irritante como ele conseguia ler minha mente e como usava isso para me torturar.
-Como você pode estar tão triste no seu dia? – a expressão de
Bruno era a mesma de sempre, irritante e sarcástica, mas seu tom de voz era tão
doce que por um momento eu acreditei que ele estava realmente preocupado
comigo.
-Fala logo o que você e para de me irritar! – a falsidade no
tom de voz de Bruno sempre me irritou, e ele sabia disso, sempre soubera. E o
fato de me irritar parecia um motivo para ele usá-la com freqüência.
-Quero sair com você. – Bruno disse, me fitando. Eu observei
seu olhar... Eu conhecia aquele olhar, eu já o havia visto com aquele olhar em
outra ocasião. Mas quando? – E eu estou falando sério. – complementou,
percebendo minha expressão de desconfiança. – Quero fazer desse dia um dos
melhores da sua vida. – ele se levantou da cadeira e estendeu o braço em minha
direção. – Permite?
Acreditar nas palavras de Bruno nunca foi fácil para mim. A
experiência sempre me alertou a confiar nele com um pé atrás; sempre que ele
vinha me procurar tão calmamente era porque estava armando algo contra mim.
Porém, pior do que eu já estava não podia ficar, então me deixei levar por suas
palavras, as que se provaram, pela primeira vez, serem sinceras. Bruno tirou um
roteiro impresso do bolso assim que saímos da escola. Aparentemente já havia
programado o dia inteiro, levando-me assim para lugares que eu nunca fora.
Primeiro, levou-me a um parque perto de onde morava. O que me
pareceu um parque pequeno e simples, se revelou depois um floresta completa.
Bruno me levou por entre as árvores, até que chegássemos a uma clareira. Lá ele
jogou ambas as nossas malas no chão e deitou-se ao lado delas.
-Vai ficar apenas me olhando? – perguntou, ao perceber que eu
não fizera o mesmo. Seu olhar era convidativo, forçando-me a deitar ao seu
lado. – Agora, feche os olhos. – ele disse, fechando os próprios. – Apenas
sinta. – segui suas recomendações, não sabendo exatamente o que ele queria que
eu sentisse no meio de uma clareira em uma pseudo-floresta dentro de um parque.
De olhos fechados comecei a escutar uma música bem baixa,
misturada com o barulho do vento balançando as folhas da árvore. O frio que eu
deveria sentir com o vento era quebrado pelo calor da luz do sol ali no meio da
clareira, onde estávamos. Minha mente se esvaziou de uma forma que eu não sabia
dizer exatamente por quanto tempo fiquei ali.
-Amanda, eu... – só então me dei conta de onde estava,
abrindo aos poucos os olhos. Minha única visão era o rosto de Bruno, muito
perto de mim. O corpo todo de Bruno estava perto, eu sentia seus braços e suas
pernas ao meu lado, sentia também sua mão na minha. Bruno me olhava de um jeito
tão diferente do que eu costumava ver. – Eu... – aparentemente ele queria me
dizer algo que não conseguia ou não sabia por onde começar.
-O que foi?
Minha pergunta o fez mudar de expressão e soltar sua mão da
minha. O garoto desviou o olhar de mim e se sentou, sem dizer nada. Ainda em
silêncio, ele se levantou e pegou as duas mochilas.
-Vamos?
~~*
Bruno me levou de volta ao parque comum, onde ficamos tempo o
suficiente para que ele tirasse algumas fotos de mim. Em seguida, me levou a
uma casa de chá, surpreendendo-me. Nunca estivera em uma casa de chá, nem
sequer sabia o que era aquilo. Lá comi salgados e doces que nunca havia provado
antes; a cada mordida mais me satisfazia. Bruno me observava a cada movimento
que eu fazia, como se quisesse registrar algo.
-Seu sorriso é lindo, sabia? – ele disse de repente. – Eu
gosto de você assim, sorrindo. Não gosto de você sorrindo.
De fato, fiquei encabulada. Bruno nunca havia dito nada
parecido com aquilo para mim. Na verdade, não me lembrava de ter sido elogiada
por ele em nenhuma situação. Não importava quando, nem como, Bruno sempre
encontrava um jeito de me criticar.
-Cadê o verdadeiro Bruno? – brinquei, sem saber exatamente o
que dizer a ele. – O Bruno normalmente diria que eu como que nem uma porca.
-O Bruno tem seus momentos de carinho de vez em quando. – ele
disse abrindo um sorriso sarcástico. – Mas não precisa nem se preocupar, já que
não gostou. Tenha certeza que momentos como esses nunca mais se repetirão,
principalmente com você. Não há muito no que te elogiar.
Era incrível como, mesmo com ele me tratando sempre mal, eu
não conseguia imaginar minha vida sem ele. Talvez pelo fato de que eu nunca
vivera sem ele, Bruno era meu amigo desde que eu aprendera a abrir os olhos.
Bruno pagou a conta assim que nos satisfizemos. Já estava
anoitecendo quando saímos da casa de chá, mas ainda sim ele me levou ao terceiro
e último destino: um observatório de estrelas.
-O meu pai trabalhava aqui. – ele disse ao chegarmos a frente
ao observatório. - Eu nunca mais passei nem perto daqui desde que... – Bruno
parou de falar ao encontrar meu olhar.
-Tem algo aqui dentro que você quer me mostrar?
-Na verdade, tem. – Bruno pegou minha mão e me levou para
dentro do observatório. Lá dentro, eu percebi que ele estava vazio e em
silêncio.
-Não tem ninguém aqui? – perguntei um pouco receosa.
-Tem sim, mas eu pedi para não nos atrapalharem na nossa
passagem. Por aqui. – Bruno indicou o caminho até uma grande sala com um
telescópio no centro. – Venha aqui. – ele me chamou depois de me deixar
apreciar a sala. – Você gosta de estrelas? – perguntou, mostrando-me um enorme
mapa astral. – Essas são todas as estrelas enxergadas a olho nu da Terra.
-É muito bonito. Dá para enxergar isso pelo telescópio?
-Na verdade, dá sim. Mas, eu teria que mexer nele, o que eu
não vou fazer, pois ele já está focado em algo muito mais importante.
-O que? – o tom de suspense de Bruno estava me assustando.
Nunca gostei do jeito com que ele usava sua voz para prender minha atenção.
Abrindo um sorriso sarcástico, como se rindo da minha expressão, ele pegou
minha mão e me levou ao telescópio.
-Dá uma olhada. – ele sugeriu quase como se me ordenando a
fazer. Preferi seguir suas instruções e olhei através do telescópio: no foco da
lente, uma pequena estrela brilhava. Ela parecia tão pequena, tão longe, mas
ainda sim, vê-la me fez sentir como se ela estivesse perto de mim. – Gostou? –
eu não o via, mas sua voz revelava que ele estava sorrindo. Eu apenas balancei
a cabeça, afirmativamente. – Ela é sua.
-Minha? – perguntei assustada, afastando-me do telescópio.
-Não sua, exatamente, ninguém é dono de uma estrela. – às vezes
Bruno me tratava como criança. Em outras, me tratava como uma idiota. E eu não
sabia o que era pior! – Mas ela tem o seu nome. – entregando-me um papel ele
sorriu.
-Você tá falando sério?
-Feliz aniversário! – não consegui conter nem meu sorriso,
nem minhas lágrimas. Se eu achava que Gustavo tinha me dado, um ano antes, um
presente inesquecível, era apenas porque eu não sabia o que me aguardava no
futuro. Eu não tinha palavras para agradecer a Bruno não apenas por aquele
certificado, mas pela preocupação comigo, pelo dia que ele me proporcionara,
então o abracei. Ele sim era o melhor presente que eu poderia receber.
@seasonsx
1 comentários:
Lu, me passa o link para o início dessa fanfic - não quero começar a ler da metade ><
Beijos,Nanie - Nanie's World
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